A igreja é mãe. Que mãe?
Folha de Londrina, Espaço Aberto - 19/06/2005

No mês de maio, um jornal publicou uma entrevista com um padre, na qual a repórter perguntava como ele vê a questão de que, segundo pesquisa, a grande maioria dos católicos brasileiros declarou que não segue a orientação da Igreja quanto ao uso de anticoncepcionais e de preservativos. Sua resposta foi: “Encaro com muita tranqüilidade. A missão da Igreja não é falar o que as pessoas querem ouvir. A Igreja é mãe e mestra, e assim sendo, tem que falar tudo o que deve ser falado. Um pai ou uma mãe nem sempre consegue agradar os filhos em tudo, mas nem por isso vai deixar de dizer o que tem de ser dito. A Igreja fala, se os filhos obedecem ou não, é problema de cada um”.

Fazem sentido todas estas afirmações, principalmente, a de que “Um pai ou uma mãe nem sempre consegue agradar os filhos em tudo, mas nem por isso vai deixar de dizer o que tem de ser dito”. Pode-se dizer que aí está uma verdade incontestável. O posicionamento assumido pelo padre pode ser válido para várias situações, porém, infelizmente, quando se trata das questões ligadas à vivência da sexualidade, as palavras ditas por ele conduzem a uma visão deturpada do papel da mãe e do pai.

Uma boa mãe ou um bom pai é aquele que olha para seu filho e filha vendo-os como uma pessoa que também tem capacidade para pensar e formar opinião e por isso, ao invés de simplesmente falar, ditar o que deve ou não ser feito, dispõe-se a ouvir, a dialogar, a possibilitar que seu (sua) filho (a) assuma-se como uma pessoa por inteiro, afetiva e intelectualmente. Crianças e os jovens precisam, sim, de um educador amoroso e sensato que faça a mediação com o mundo. Pessoas autônomas moralmente são aquelas que aprendem a tomar decisões pautadas em valores que conseguem elaborarem por si próprias, através do diálogo com os adultos, do pensar e do olhar crítico para o mundo e não, simplesmente, agem de acordo com o que os outros lhe ditam para fazer.

As crianças tendem a ver o pai e a mãe como pessoas perfeitas, que sabem tudo e que nunca erram. Quando vão crescendo, descobrem que isto não é verdade e é muito saudável que o descubram, pois só assim terão condições de também tornarem-se adultos saudáveis. E, vendo a questão por outro lado, um filho ou filha, se souber questionar, com sua mãe ou pai (ou com sua própria Igreja-mãe), as regras que tentam lhe passar, ao invés de seguir obedientemente e sem pensar, pode ajudá-los a rever seus posicionamentos, a ressignificar as vivências e a acompanhar o mundo em mudança. Aí está uma relação de amor de via dupla. Penso que precisamos de uma Igreja mãe e mestra que não apenas fale, mas que esteja aberta ao diálogo.


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