A mulher e o trabalho de meio período
Folha de Londrina, Espaço Aberto - 24/07/2005

Na Folha da Sexta do dia 15, a psicóloga Vilma Marchitiello fala de sua proposta de “criar um movimento de reforma no mundo feminino” e dá um conselho às mulheres: o de “brigar pelo direito de trabalhar meio período, por horários mais flexíveis, para poderem cuidar dos filhos, da casa, do marido, sem ficarem sobrecarregadas.” Sugere, inclusive, a possibilidade de opção pela dedicação exclusiva à família. Considera que “trabalhar fora é um péssimo negócio, por causa da dupla jornada de trabalho”.

A idéia do trabalho de meio período está longe de ser viável e dificultaria para que a mulher pudesse crescer profissionalmente, meta que tanto ela quanto o homem almejam. O mundo caminha para frente e necessita da participação de mulheres competentes, por isso, temos que pensar em alternativas eficazes. A primeira delas é lutarmos por remuneração mais justa, em todos os setores, buscando a igualdade salarial com relação aos trabalhadores do sexo masculino. Assim, aumentaria a possibilidade de a família contratar alguém para fazer os serviços domésticos e ajudar no cuidado com os filhos. Ao mesmo tempo, é preciso mais e melhores creches.

Outra alternativa importante é, ao invés de se manter a mulher mais tempo dentro de casa, conscientizar o marido/pai para tornar-se mais participante, dividindo com amor e responsabilidade os cuidados da casa e dos filhos. Os filhos, de ambos os sexos, também podem aprender a cooperar. Mães e pais precisam educar novos filhos homens, de acordo com as exigências deste tempo moderno. Tudo isto é uma questão cultural e um processo de transformação de atitudes que leva tempo.

A psicóloga Vilma afirma que, nas reuniões que fez com mulheres de 20 a 50 anos, a maioria se queixava da frustração e da culpa de não poder acompanhar o crescimento dos filhos. Penso que estes sentimentos se farão sempre presentes; parece difícil livrar-se deles, totalmente. É preciso amenizá-los e, possivelmente, o melhor meio é valorizar os ganhos que o trabalho fora de casa pode trazer para a relação com os filhos e até mesmo com o esposo. Quando os filhos têm em casa um exemplo de mãe que estuda e/ou é engajada profissional e socialmente, eles têm um ganho adicional, em termos de formação e de incentivo para a vida. Chamo atenção para o fato de que mesmo uma mãe que opta por não trabalhar fora pode significar, de outras maneiras, um bom modelo. Acredito muito que a mulher realizada pessoal e profissionalmente se reabastece de auto-estima e auto-confiança para exercer seu papel de mãe e esposa.

É importante o alerta para que os filhos recebam mais amor, cuidado e educação, mas este alerta tem que ser feito aos pais e às mães e não a essas, unicamente. Asseguro que o próprio homem ganhará muito com isto, também.

 


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