Aborto: uma outra visão
Folha de Londrina, Espaço Aberto - 18/08/2004

Tenho acompanhado as opiniões sobre o aborto, na Folha de Londrina, e pude constatar que todas são contrárias à sua legalização. Pretendo trazer elementos para reflexão, justamente porque minha posição é divergente. Diante da informação de que cerca de 70 mil mulheres morrem por ano, no mundo, devido a abortos malfeitos (Folha de Londrina, 02/09/04), a sociedade precisa pensar, debater e buscar solução.

Pode estar em nossas mãos imprimir novos rumos para esta situação e para justificar isto, considero úteis os dados históricos sobre o quanto a posição da Igreja Católica, a respeito deste tema, variou através dos tempos. Segundo estudos feitos por Maria Tereza Verardo (Editora Moderna), desde o século IV, as doutrinas baseadas em São Basílio condenavam o aborto em qualquer estágio e em qualquer circunstância, por acreditar que a alma habita o corpo a partir do encontro do óvulo com o espermatozóide. No século VI, segundo o Código Justiniano, o aborto passou a ser permitido, desde que praticado nos primeiros 40 dias de gestação, pois considerava-se que a infusão da alma só acontecia quando o feto adquiria a forma humana; por quase dez séculos perdurou a permissão, com a anuência dos Papas que se seguiram. Em 1588 o Papa Sisto V passou a condenar o aborto em qualquer estágio. Três anos depois, o Papa Gregório XIV voltou a aprovar, o que durou um período de 278 anos. Em 1869, a proibição foi restituída por Pio IX e continua até os dias atuais.

Acima de tudo, considero que a Educação Sexual é necessária desde a infância, na família e na escola, a fim de que jovens e adultos (mulheres e homens) sejam capazes de assumir medidas de anticoncepção. Em segundo lugar, as crianças precisam ser desejadas e amadas, desde o momento da concepção, para crescerem adultos íntegros, intelectual, psíquica e emocionalmente. As violências física, sexual e psicológica, a que são submetidas muitas crianças já nascidas, todos os dias, constituem-se numa real barbárie. É urgente assegurarmos vida com dignidade, amor e felicidade às crianças que vêm ao mundo. À mulher deve ser dado o direito de tomar as decisões concernentes ao seu próprio corpo. A não legalização faz com que mulheres de condição sócio-econômica baixa recorram a ambientes clandestinos, colocando em risco suas vidas, enquanto que as de melhor poder aquisitivo o fazem em clínicas de maior segurança. Pesquisas mostram que, nos países onde há a legalização, o índice de aborto não aumentou.


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