Educação sem medo da sensualidade
Folha de Londrina, Espaço Aberto - 20/02/2004

No dia 17, o ginecologista Dr. Calvino C. Fernandes escreveu defendendo a proposta de uma Educação Sexual voltada para a abstinência sexual dos jovens. Diante de tão comprometedora posição, como profissional que vem trabalhando na formação de educadores sexuais, na UEL, vejo-me no dever de mostrar a visão da grande maioria dos estudiosos da Educação Sexual.

Em primeiro lugar, precisamos nos perguntar o que pensamos da criança e do adolescente que vamos educar. Nós os vemos apenas como uma “Ferrrari” aquecida pelos hormônios, ou como uma “esponja” sempre pronta a absorver atitudes, como diz Dr. Calvino em seus textos? Os professores vêm aprendendo que os alunos são capazes de construir conhecimento, de formar idéias e atitudes, e necessitam de educadores (e aqui também se incluem os pais) que criem as condições para que pensem, discutam e sejam ouvidos. Se usarmos o discurso da abstinência sexual, muitos adolescentes acabarão transando e a experiência vai ser acompanhada de angústia e de culpa e isso pode, muito provavelmente, contribuir para desajustes sexuais. Se lhe dizem que não pode fazer sexo, que é, enfim, moralmente condenado, o adolescente não vai prevenir-se com responsabilidade, porque prevenir-se significa estar preparando-se para um ato moralmente reprovável; é assumir-se estar sendo uma pessoa moralmente afetada.

É um grande risco e um desrespeito ditar regras aos jovens e isto já está superado na educação. Não usamos a alternativa de dizer ao adolescente “faça o que for melhor para você”, como o médico pensa que os professores fazem. Muito além de dar aulas sobre biologia e fisiologia da sexualidade, é preciso ouvir os jovens e educar ajudando a trabalhar sentimentos e atitudes e a preservar os valores fundamentais como o amor, o respeito por si e pelo outro, a justiça, a igualdade e a liberdade. Assim, bem formado, eles podem tomar suas próprias decisões com responsabilidade.

Por que temer a sensualidade, o erotismo? É oportuno o pensamento do Dr. Paulo Rennes M. Ribeiro: “... é perfeitamente possível denunciar a total ausência de valores éticos universais na formação dos indivíduos, a total ausência de respeito pelo outro, a égide do consumismo e do 'levar vantagem a qualquer preço'. É isto que traz problemas para a sexualidade, não a erotização em si. A erotização é natural no ser humano, anima o corpo e a vida. As relações interpessoais é que estão materializadas, sem afetividade, sem amizade.”


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