Educação Sexual na família: avançada ou estagnada?
Folha de Londrina, Espaço Aberto, p. 2 - 24 de setembro de 2015

Será que a Educação Sexual na família tem progredido em relação a décadas anteriores? Uma educadora fez-me esta pergunta e eu disse acreditar que vai demorar para atingirmos uma melhora significativa, tanto no sentido de as famílias cumprirem esse papel com qualidade, quanto no sentido de termos  um número cada vez maior de famílias que assumem essa responsabilidade. Disse, ainda, que o avanço só acontecerá quando as escolas, também, trabalharem o tema, desde a Educação Infantil, com naturalidade, e os adolescentes forem crescendo habituados a conversar  sobre o sexo, de forma positiva. Assim sendo, quando eles se tornarem pais e mães estarão melhor preparados. Enfim, mostrei-me descrente em relação ao  progresso da Educação Sexual na família.

Nestes dias, aconteceu um fato que me deixou entristecida e justifica minha descrença. Uma de minhas filhas encontrou uma pessoa conhecida que, ao vê-la grávida, comentou, aproximadamente, assim: "Meu filho (5 anos) vem pedindo um irmãozinho e me perguntou como faz para o nenê entrar na barriga da mãe. Respondi a ele que é Deus quem coloca e, quando a gente quer um bebê, tem que rezar pedindo.  Ele correu para o seu quarto e logo voltou dizendo: 'Tá aí, mãe, na sua barriga? O bebê já tá aí? Eu rezei!'". Mais  triste fiquei, quando me dei conta de que esta mãe, que tem por volta de 32 anos, moderna e com nível superior, ganhou, de sua mãe, um dos meus livros (Educação Sexual no dia a dia, 2013), que orienta como explicar para as crianças: como os bebês "entram" na barriga da mãe, como saem etc. Ensino a falar de diferentes maneiras, gradualmente, conforme a idade da criança: de 3 a 4 anos,  de 4 a 5 e acima de 5 anos, aproximadamente. Ensino a falar a verdade, de forma simples, clara e adequada para cada idade.

Provavelmente, essa pessoa não leu o livro, pois nele discuto o quanto é falsa e enganosa a explicação de que é Deus quem torna a mulher grávida. É uma versão diferente, mas na mesma linha da  "antiga explicação": cegonha, avião, repolho...". O que faz com que  muitas mães (e pais)  não busquem aprender como conversar com os filhos sobre sexualidade?  Por que "empurram com a barriga" conversas que poderiam alimentar a relação de confiança que a criança tem com sua mãe e/ou pai?

Recentemente, numa roda de conversas entre mães, minha filha também ouviu  uma delas dizer que respondeu ao filho que o bebê entrou pelo umbigo dela. Não falar a verdade é desrespeitar a criança em sua inteligência e em seu direito ao conhecimento; é tratá-la como medíocre. É matar nela a abertura para novas perguntas e para o exercício de aprender a pensar. Três são as explicações possíveis para essa omissão. A primeira, que acredito ser a mais comum, deve-se ao fato de a mãe não  ter tido uma Educação Sexual positiva¸ nem em casa, nem na escola, e, com isso, cresceu com a percepção de que sexo é um assunto do qual não se fala e desenvolveu bloqueios para abordar o tema. A segunda razão pode ser o desconhecimento da necessidade de se conversar com a criança sobre o nascimento e as questões a ele relacionadas, aliado ao fato de não saber como fazê-lo. A terceira pode estar relacionada a  dificuldades pessoais e emocionais, da mãe (ou do pai), com relação à  vivência de sua sexualidade, de tal forma que falar sobre sexo com os filhos mobiliza desconforto pessoal ou angústia.

Pai e mãe educam sempre seus filhos, do ponto de vista sexual, mesmo que não se deem conta disto, pois, no relacionamento cotidiano de casal, na forma de lidar com situações do dia a dia e por meio de suas atitudes, transmitem valores e sua forma de encarar as questões ligadas à sexualidade. Não podemos cobrar nossos pais pelo silêncio e pelas falhas nesse sentido, já os pais e as mães do século XXI não serão desculpados por falharem nesse papel, pois há muitos meios de aprender. É preciso conversar com os filhos e ensiná-los para que não busquem nos amigos e na internet as respostas para suas dúvidas.

 

 


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