Educação Sexual na escola?
Folha de Londrina, Espaço Aberto - 24/09/2003

O texto “A invasão dos espermatozóides”, publicado no dia 20 e assinado pelo ginecologista Calvino C. Fernandes, traz uma visão parcial e fragmentada da Educação Sexual. De fato, a família tem um importante papel na Educação Sexual dos filhos, mas deve preparar-se, buscando conhecimentos para desempenhar bem esta sua função, pois, se o amor manifestado entre os pais é educativo, por si só não basta. Além do mais, não são todos os casais que têm condições de dar testemunho de uma vida afetiva e sexual positiva.

Reconhecer a importância dos pais nesta questão não nos possibilita excluir o papel da escola no ensino da sexualidade. É verdade que não bastam apenas informações, mas é necessário, acima de tudo, uma educação formativa, na qual sejam trabalhados valores, sentimentos e atitudes em relação ao sexo. E os professores podem e devem trabalhar valores e atitudes, não impondo os seus próprios, mas criando várias oportunidades de reflexão individual e de debate em grupo. É um exercício que deve ser sistemático, feito a longo prazo e, sobretudo, iniciado na Educação Infantil.

Assim sendo, é função da escola, também, educar sexualmente. Por que? Porque é um direito da criança e do adolescente conhecer seu corpo e a sexualidade, ter uma visão positiva da sexualidade, elaborar seus próprios valores, a partir de um pensamento crítico e tomar decisões responsáveis a respeito de sua vida sexual. Esta tarefa da escola, e não apenas dela, intensifica-se diante da presença avassaladora de DST e da AIDS, assim como da gravidez na adolescência. E só um trabalho formativo e sistemático, acompanhado de preparo dos professores e de um envolvimento da escola como um todo, é capaz de alcançar resultados positivos. Se as camisinhas estiverem disponíveis nas escolas, para os alunos que precisarem delas, poderemos ter uma probabilidade maior de que serão usadas. Maior ainda será a probabilidade, nos asseguram estudos feitos na USP, se nossos jovens forem pessoas acostumadas a conversar sobre sexo com os pais e com os colegas e, neste último caso, a escola pode ajudar diretamente, criando, como já assinalei, oportunidades para conversas qualitativamente positivas entre esses. Achei o texto do ginecologista agressivo e desrespeitoso para com os profissionais da Saúde, que têm se empenhado para buscar saídas para os problemas sociais, o que deveria ser preocupação de todos, inclusive de quem trabalha isolado num consultório.


VOLTAR