Em socorro da Educação Sexual - I
Folha de Londrina, Espaço Aberto - 18/10/2004

No dia 22 de setembro a matéria intitulada “Sexo com naturalidade” trouxe algumas concepções questionáveis no campo da Educação Sexual e eu pretendo elucidá-las, pois considero que é um assunto em que, tanto pais, quanto professores, estão começando a aprender e é bom que aprendam fundamentados no conhecimento científico.

Disse o psicanalista Ailton Bastos, na matéria, que “Não tem idade para começar a falar; é quando a criança pergunta.” Acontece que nem sempre a criança pergunta e, não perguntar, não significa que ela não tenha interesse em saber. Mesmo que não haja perguntas, os adultos devem criar e aproveitar as oportunidades para conversar sobre todas as questões que possam interessar à criança, como por exemplo, a diferença entre os sexos e de onde vêm os bebês. A forma de explicar, evidentemente, precisa ser adequada à idade e sempre pautada na verdade. É urgente começar na Educação Infantil; assumir a postura cômoda de aguardar perguntas pode implicar em sérios riscos. E, mais que falar, é preciso saber ouvir.

Segundo ponto proposto pelo psicanalista: “Tem que falar sempre de acordo com o tamanho da pergunta. Não é para dar aula de sexualidade porque a criança pode não entender ou não estar interessada em outros aspectos”. Eu digo diferente: “Não basta responder, é preciso conversar.” Lógico que o educador deve ter a sensibilidade para avaliar que, em determinados momentos, é melhor restringir-se apenas à pergunta. Não se deve ter medo de ensinar além, e quem faz com a disposição interior de querer que a criança aprenda e se eduque para ser feliz, consegue envolvê-la num bate-papo agradável e motivador.

Terceiro ponto: Quando a criança está masturbando-se, “os pais devem chamar sua atenção para outra atividade e desviá-la do que está fazendo.”, afirmou Bastos. Isto pode ser recomendável, apenas, se houver outras pessoas por perto e a situação estiver gerando constrangimento. Mas se não houver, os pais podem fingir que não viram nada e, num momento oportuno, dizer que o que ela estava fazendo é bom e pode ser feito, mas deve cuidar para não fazer na frente de outras pessoas. Mesmo para a criança pequena, ter direito à Educação Sexual é ter direito não só à informação, mas também a poder vivenciar o prazer, neste caso, através da masturbação.

Será que estamos sabendo ser leitores críticos? Ou estamos assimilando de maneira acrítica tudo que nos é dito, porque vem de uma autoridade? É bom que pais e professores recorram a boas e variadas leituras na área e valorizem o saber que a sua experiência de vida lhes proporciona.


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