Em socorro da Educação Sexual - II
Folha de Londrina, Espaço Aberto - 25/10/2004

Continuando a tratar de algumas concepções questionáveis sobre a Educação Sexual, trazidas no dia 22 de setembro (Folha Cidadania), na matéria intitulada “Sexo com naturalidade”, analiso a afirmação do psicanalista Ailton Bastos, de que “o adulto precisa resolver seus próprios problemas e tabus” para poder falar sobre sexualidade. Penso que se colocarmos como pré-requisito a condição de resolver seus próprios problemas, desanimaremos, logo de início, muitos dos que desejam ser bons educadores. Certamente, para conseguir falar com naturalidade, é necessário rever seus valores, sentimentos, tabus e preconceitos. É necessário desvincular-se da noção de pecado, de feio e de sujo aprendida. Porém, não considero que o adulto precise, antes, resolver seus próprios problemas. É possível que uma pessoa com dificuldades em sua vida sexual, mas com uma visão bonita do corpo, do sexo e do relacionamento amoroso-sexual, consiga educar bem.

Destaco, agora, a seguinte afirmação do psicanalista: “No “ficar” não há relacionamento, mas uma utilização do outro em benefício próprio. Quando não há afeto e relacionamento, há uma banalização do sexo”. Considero uma análise limitada e generalizante. Pesquisadores ouviram adolescentes sobre o que pensam a respeito do “ficar” e afirmam que a grande maioria deles considera saudável e necessário e concebe como uma fase prévia, onde pode estar havendo conhecimento do outro, para se chegar ao namoro. Numa pesquisa em que ouvi 54 adolescentes, em Londrina, a maior parte afirmou que suas mães são contra o “ficar” e orientam para não “ficar”. Mesmo assim, eles acabam “ficando”, só que de forma conflituosa, e isto pode ser prejudicial para seu desenvolvimento afetivosexual.

No “ficar”, significando estar junto de alguém por um tempo breve, sem compromisso, trocando carícias, pode estar havendo sentimentos, descoberta de sensações, conhecimento de si e do outro. O que é preciso, é uma formação ética familiar, onde se eduque para o respeito ao outro e a si próprio e para a igualdade, entre outros valores. É isto, conforme afirmou a psicóloga Amparo Caridade, que vai assegurar que nossos jovens vivam o “ficar” como uma experiência positiva. Diz a autora que há riscos de banalização do outro e do seu corpo ao “ficar” e que só a formação ética pode .evitar. Acredito que esses mesmos riscos existem também em muitos namoros (e em vidas de casado) que são pobres de respeito e afetividade. Nossos adolescentes precisam ser ouvidos e se tiverem uma boa e séria Educação Sexual, na escola, eles próprios acabam reconhecendo que, para a iniciação sexual (falo aqui de relação sexual), é preciso ter responsabilidade e respeito e que é bem melhor quando acontece entre pessoas que se querem bem e num momento em que a relação amorosa esteja mais sedimentada.


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