Gênero e Ideologia de Gênero: espinhosa relação
Folha de Londrina, Espaço Aberto, p. 2. Data: 24 de julho de 2016.

No ano passado, acompanhamos os impasses em torno dos termos: Gênero e Ideologia de Gênero, quando houve discussões para se manter, ou não, a palavra "gênero" nos Planos Nacionais, Estaduais e Municipais de Educação. De onde vem esta relação espinhosa entre os dois termos?. É importante esclarecer os fundamentos de ambos.

Gênero diz respeito à masculinidade e à feminilidade, ao jeito de ser homem e de ser mulher, de comportar-se e de vestir-se de acordo com as regras que cada cultura vai determinando. Por isso, diz-se que Gênero é uma construção social e histórica, porque vai mudando ao longo dos tempos. Antes, falava-se em: papéis sexuais, mas esta expressão foi abandonada porque dava a ideia de uma lista fixa do papel do homem e da mulher. Ser homem, nos dias de hoje, é bastante diferente do que ser homem há várias décadas atrás. Idem para a mulher. Ser homem ou mulher num país católico é diferente de o ser num país muçulmano. Mudanças positivas no comportamento do homem implicam em mudanças no comportamento da mulher e vice-versa, e ambos saem ganhando. Trabalhar Gênero nas escolas significa refletir sobre: as desigualdades entre homens e mulheres e as implicações negativas dessas desigualdades, para ambos; a responsabilidade, tanto do homem ou rapaz, quanto da mulher ou garota, na prevenção de gravidez e da contaminação por DSTs; o alto índice de discriminação e violência contra a mulher e contra as minorias raciais, religiosas e sexuais; e o abuso sexual contra crianças e adolescentes. Significa também conscientizar a respeito dos direitos humanos, dos direitos sexuais e direitos reprodutivos e dos diversos tipos de família. Trabalhar Gênero nas escolas é ajudar a compreender a opressão exercida sobre os homens (homem não chora etc), é educar para o respeito à diversidade, de modo a eliminar todo tipo de preconceito e discriminação, seja racial, sexual ou de religião, entre outros, e é educar para superar o machismo e o sexismo (a divisão: isto é de homem, isto é de mulher).

Ideologia de Gênero é um termo que não faz parte dos estudos científicos sobre Gênero. Ele foi criado e é usado por pessoas não progressistas, que defendem papéis rigidamente estabelecidos para o homem e para a mulher, devendo esta ficar em condição subserviente e inferior. Para essas pessoas, a diferença entre homem e mulher é fundada na biologia e, portanto, é natural, sendo inconcebível a ideia de luta pela igualdade e, também, a ideia de que as pessoas mudam sua forma de agir, de se comportar e de se relacionar com o sexo oposto. Esse grupo acredita que falar sobre Gênero nas escolas é favorecer que as crianças mudem de sexo ou se tornem homossexuais, por exemplo. Para eles, a aceitação da possibilidade de família composta por pais ou mães homossexuais vai conduzir à morte da família tradicional, cuja essência está na procriação. Além disso, condenam como pecaminosa a homossexualidade.

Quando foi criado o termo Ideologia de Gênero? Nos anos de 2014 e 2015, quando se discutiu, no Brasil, os Planos de Educação? Não. Já no ano de 1998, o livro Ideologia de gênero: o neototalitarismo e a morte da família, de Jorge Scala, advogado argentino, apresenta "a teoria" da Ideologia de Gênero e prega contra todo trabalho educativo sobre Gênero. Esta e outras publicações semelhantes circulam pelo Brasil e em muitos outros países. Vários religiosos e políticos cristãos e fundamentalistas vêm causando pânico moral com base nessa Ideologia. Quanto desserviço à educação e às relações humanas! Vejamos a fala da psicóloga Marisa Lobo, pertencente a esse grupo: "A vitória da ideologia de gênero significaria a permissão de toda perversão sexual (incluindo o incesto e a pedofilia) [.], a perda do controle dos pais sobre a educação dos filhos, a extinção da família [.]".

Em 17/08/2015, por meio da Nota Técnica 24/2015, o "Ministério da Educação reitera a importância dos conceitos de gênero e orientação sexual para as políticas educacionais e para o próprio processo pedagógico. É conhecimento cientificamente produzido que não pode ser excluído do currículo." A ONU apoia a inclusão do tema Gênero na Educação.


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