Homossexualidade: efeitos do não-entendimento
Folha de Londrina, Espaço Aberto - 20/03/2005

No dia 14 de março, por conta da novela Senhora do Destino (Rede Globo), um pai escreveu na Folha de Londrina, que fica perdido e revoltado diante da pergunta de seu filho: “Pai, por que aquele homem da novela fala daquele jeito? Por que aquelas duas mulheres se beijam na boca e dormem na mesma cama?” Até entendo o quanto é difícil para os pais lidarem com perguntas como estas, pois, o que sabem a respeito da homossexualidade? O que a vida ensina. E o que e a vida ensina? Preconceito e discriminação. Será que temos buscado conhecer, compreender a respeito deste assunto para assim podermos rever nossos valores, nossos preconceitos e nos posicionarmos com ética e dignidade diante das pessoas homossexuais ou das perguntas que as crianças nos fazem sobre ela? Que bom que a TV mostra que existe na vida real; assim, ela nos faz pensar; nos tira do comodismo. Quem assistiu a novela conseguiu ter sensibilidade para perceber a beleza do relacionamento das duas personagens lésbicas? Quantos casais heterossexuais, muitas vezes, estão distantes de servir de exemplo?

Quando se pensa na homossexualidade, logo se pensa no sexo entre duas pessoas iguais; é preciso pensar no amor entre duas pessoas iguais. Esta mudança de postura nos colocaria mais abertos para o entendimento e o respeito. Deveríamos nos incomodar mais com as diferentes formas de fazer guerra, do que as diferentes formas de fazer amor. As pessoas temem aquilo que não conhecem e odeiam aquilo que temem; portanto, é urgente buscar entender a homossexualidade; a sociedade, as escolas e a mídia precisam criar espaços de esclarecimento.

Fico muito triste quando vejo um pai “deixar escapar uma pergunta”, e assim perder a chance de ensinar a seu filho a verdade tão simples: a de que existem pessoas que se apaixonam por pessoa de sexo diferente do seu, e que existem outras que se apaixonam por pessoas do mesmo sexo. Não há perigo algum que um garoto ou garota venha a tornar-se homossexual por saber dessa verdade. Desde que o mundo é mundo, existem estas possibilidades de amar. Não é uma questão de opção; a pessoa não escolhe ser homossexual. Faz parte da personalidade. É uma questão de sentimento: ela sente atração afetivo-sexual por uma pessoa do mesmo sexo e não sabe dizer porque, da mesma forma que nós, heterossexuais, não sabemos dizer porque nos apaixonamos por alguém de outro sexo. Talvez, quem saiba, um mesmo pai que um dia não soube plantar no coração de seus filhos a compreensão e o respeito pelos homossexuais, não poderá ter plantado, ao mesmo tempo, a semente da rejeição de um irmão por outro, dentro do mesmo lar? Sim, porque, de repente, um dos filhos pode ser gay (ou lésbica) e necessitará ser amado e aceito dentro de seu próprio seio familiar. M


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