Jovens Gays. Famílias desajustadas?
Dra Mary Neide Damico Figueiró - Espaço Aberto - Folha de Londrina, 01 de outubro de 2020, p.2

O Ministro da Educação, Milton Ribeiro, no dia 24 deste mês, fez a seguinte afirmação ao Jornal o Estadão[1]: “Acho que o adolescente que muitas vezes opta por andar no caminho do homossexualismo (sic) tem um contexto familiar muito próximo, basta fazer uma pesquisa. São famílias desajustadas, algumas”.

Tendo em vista que esta fala é apoiada por centenas de milhares de pessoas desconhecedoras da riqueza da diversidade humana, desconhecedoras do desenvolvimento humano, incluindo os aspectos psicológicos, mentais e emocionais, e desconhecedoras, ainda, dos saberes científicos que abordam o tema da diversidade sexual, venho trazer algumas reflexões, como pesquisadora e estudiosa da Educação Sexual. Ao contrário do que dizem as falsas pregações, não são famílias desajustadas que vão tornar seus filhos homossexuais, mas sim, é a descoberta da homossexualidade do/a filho/a que pode levar a família desinformada a desajustar-se, a desequilibrar-se e a adoecer como um todo, incluindo irmãs e irmãos. Desse modo, as famílias que não têm a real compreensão de que a homossexualidade é parte do humano, assim como o é a heterossexualidade, iniciam uma jornada de sofrimento. Quem mais sofre são mães, pais e avós que assimilaram preconceitos e só tiveram chance, ao longo da vida, de ouvir explicações acusatórias de pecado e de doença. Soube de um caso recente de uma mãe que tentou suicídio três vezes por não conseguir aceitar seu filho homossexual.

É por isso, também, que é necessária a Educação Sexual emancipatória e intencional nas escolas, para que crianças e jovens sejam respeitosos para com todo tipo de diversidade, incluindo aí, a diversidade sexual, e sejam capazes de amar os filhos e filhas que vierem a ter, independente da orientação sexual dos mesmos.  Costumo dizer aos educadores que, se clarearem para crianças e adolescentes sobre a homossexualidade, estarão alcançando duas metas importantes da Educação: contribuirão para que não pratiquem bulling e nem agridam alguém por ser homossexual; e, em segundo lugar, caso descubram, em si, uma orientação homossexual, estarão mais fortalecidos/as para se compreenderem, se aceitarem, se assumirem e conquistarem seus direitos. Tenho um filho e três filhas, sendo uma delas  homossexual, e posso assegurar que minha família é uma família de bem e que sinto orgulho por minha filha ter se assumido, ser corajosa e fiel a si mesma, desde a adolescência.

Pessoas que destilam veneno com suas falas preconceituosas são chamadas de “amoladores de faca”, por Luis Antonio Baptista dos Santos, pois não ferem diretamente os diferentes, mas incitam outros a praticar o desprezo, o bulling e até mesmo o crime.

Soube que, recentemente, na paróquia católica de minha cidade, foi trazido um psicólogo de outro Estado para falar sobre homossexualidade para as catequistas. Ele deu explicação igual à do Ministro e as agradou, segundo me informou uma delas. Agradou porque ouviram o que já pensavam e que, portanto, não precisaram de esforço mental e emocional para ressignificar seu modo de ver a questão. Em contrapartida, tive a grata satisfação em saber que uma professora da rede pública, evangélica conservadora, que participou do meu projeto de Extensão na UEL, tem conseguido ser a pessoa esclarecedora e acolhedora em sua família, quando da ocasião da revelação de homossexualidade de um neto.

Sobre a fala que abre este texto, o termo correto é homossexualidade e não homossexualismo, porque o sufixo ismo é para se referir a transtornos e doenças, e homossexualidade não é doença. Deve-se dizer orientação sexual e não opção sexual, pois não é escolha. Esclarecer sobre diversidade sexual não torna ninguém homossexual, muito menos incentiva a mudança de sexo, como proclamam por aí.


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