Luta contra Covid-19: aliados ignorados.
Profa Dra . Mary Neide Damico Figueiró e Isabela Figueiró Martini - Espaço Aberto - Folha de Londrina, 2 de fevereiro de 2021, p.2

No início da epidemia, pudemos compreender e aceitar - não sem certo espanto - a suspensão de aulas presenciais, em especial das crianças e adolescentes. Reconhecemos que houve a firmeza necessária por parte dos responsáveis na administração municipal por tamanha decisão e enfretamento.  Foi preciso um tempo  para a compreensão e a preparação de todos os setores, incluindo a escola. No meio da caminhada, constatou-se a necessidade de se analisar prós e contras ao ensino presencial, enfim, refletir, ponderar. Para isso, tem sido importante ouvir as vozes representativas de vários setores, tais como gestoras/res e professoras/es,  incluindo os da educação infantil, mães, pais, profissionais especialistas da saúde, do desenvolvimento cognitivo, mental  e emocional das crianças e adolescentes,  assistentes sociais etc. Esforços foram envidados neste sentido, sobretudo por parte  de grupos organizados. 

No primeiro momento, a suspensão das aulas presenciais contribuiu para o controle temporário da epidemia. Porém, atualmente, essa suspensão vem sendo acompanhada de um descumprimento geral das normas de higiene e de segurança para se conter a pandemia, divulgadas desde março de 2020. Crianças e adolescentes, longe das escolas, vêm tendo lições e mais lições sobre como não respeitar uma epidemia e como não contribuir para combatê-la. Elas e eles vêm vivenciando verdadeiras “aulas” sobre como não ter consciência social e respeito pela própria vida, pela vida de seus familiares e do grupo social como um todo. Haja vista os muitos bares movimentados, as festas, as viagens, inclusive com exposição nas redes sociais. E some-se a isso  a aglomeração em muitos e variados espaços da cidade, como, por exemplo, supermercados, shopping, lojas, bancos etc. 

Na escola, em contrapartida, professores ensinariam seus alunos, desde pequeninos, a seguir os protocolos de higiene e segurança, e vários deles levariam para casa este aprendizado e conscientização.  E ainda, teríamos futuros adolescentes/jovens educados e preparados para enfrentar eventuais futuras epidemias. Sim,  alunos e alunas podem ser fortes aliados na luta contra a Covid-19, mas foram ignorados neste sentido e vistos apenas como transmissores. 

Inclusive, acreditamos que o lugar mais seguro para os profissionais da Educação seria dentro das escolas, com seus alunos, todos seguindo os protocolos. Afinal, 11 meses foi um tempo mais que suficiente para as escolas se preparem para o retorno com segurança.

Temos que atentar, ainda, para o fato de que as crianças fora da escola são mais vulneráveis  ao abuso e exploração sexuais, e à  violência física, e por isso, os responsáveis mores pelo impedimento da volta às aulas presencias podem se considerar coautores de todas essas atrocidades.  O preço que crianças e adolescentes pagarão pelo atraso em seu desenvolvimento integral não deveria ser menosprezado. Para as/os de baixo nível sócioeconômico, o efeito é ainda mais desastroso e acentuará as desigualdades sociais. Entretanto, todos estão perdendo, não importa o nível. 

A suspensão das aulas presenciais não assegura o isolamento social necessário para combater a epidemia, pois grande parte da sociedade, por não ter consciência social, vem sacrificando, irresponsavelmente, nossos serviços de saúde e seus profissionais. Então, por que estrangular as escolas? 

Um dos  grandes efeitos deletérios da falta de aulas presenciais é o impacto no aprendizado das meninas pela sobrecarga das tarefas domésticas, o que foi constatado por Heloísa Botelho (Folha, 27/jan.), servidora da rede pública de Educação Municipal e Estadual de Londrina, cuja pesquisa recebeu o prêmio Uni-COVID 19.  Quantos outros efeitos negativos haverão sobre a família com um todo? Sobre o relacionamento entre o casal e entre pais/mães e filhos/as? Só o tempo dirá. Gratidão aos profissionais da Educação que envidam esforços na direção desta luta.


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