O jeito de ser e a sexualidade
Folha de Londrina, Sexo e Comportamento - 24/12/2009

A maneira como a pessoa encara a própria sexualidade tem relação com suas características de personalidade? Esta é das perguntas feitas por um leitor ou leitora da Folha. O que somos, isto é, nossa forma de pensar, sentir e agir, influi, sim, na visão que temos da sexualidade e de todas as questões ligadas a ela, como é o caso da masturbação, do corpo, da relação sexual, da diversidade sexual etc. Influi, também, na forma como agimos em relação a isto tudo. No entanto, nosso jeito de ser, nossa personalidade, não é algo dado pronto, que recebemos ao nascer. Pelo contrário, a personalidade vai constituindo-se e desenvolvendo-se à medida que crescemos e nos relacionamos com as diversas pessoas. Tem a ver, também, com o modo como a humanidade, ao longo da história, foi encarando este assunto, até os dias de hoje. Assim, o que somos é fruto das relações pessoais presentes, da cultura e da história. Esta é uma visão histórico-social da formação do psiquismo humano.“Toda pessoa sempre é as marcas das lições de outras tantas gente”, diz Gonzaguinha numa de suas músicas.

Durante nossa infância e adolescência, a forma como nossos pais e, também nossos amigos, irmãos e professores, tratavam as questões ligadas ao corpo e ao sexo, a forma como eles reagiam às nossas atitudes e perguntas, nos levaram a formarmos idéias positivas ou negativas a respeito, e, sem dúvida, tem influência na forma como encaramos a sexualidade. Também nossa formação religiosa, a mídia e a cultura em que estamos inseridos, tudo isto vai determinando que valores e normas vamos adotar, e portanto, vão determinando nossos pensamentos e sentimentos. Daí a importância e a necessidade de nos reeducarmos sexualmente, buscando a revisão constante de nossa maneira de pensar, a ponto de chegarmos a ser sujeitos de nossa sexualidade, com liberdade e responsabilidade. Costumo dizer com freqüência, que estamos passando por processos de transformação e revisão em vários comportamentos sexuais, assim como em algumas leis que são decisivas no campo da sexualidade, tais como: a união civil homossexual, a criminalização da homofobia e a questão do aborto. Será que cada um está consciente de seu posicionamento e do sentido dele?

A experiência com Grupos de Estudo sobre Educação Sexual, na UEL, que vem sendo desenvolvidos desde 1995, tem mostrado que as pessoas que se dispõem a ler sobre o tema, a refletir, debater em grupo e rever sua forma de pensar e sentir, acabam mudando sua forma, muitas vezes repressora e negativa de pensar e de ver o sexo e, passam a também mudar seu comportamento e a colher resultados disto na vida pessoal e profissional. Vemos assim, a importância e a responsabilidade que temos na educação das crianças e jovens, em todas as áreas: acadêmica, moral e sexual. Se quisermos indivíduos autônomos, preocupados em criar relações interpessoais sadias e menos conflituosas, com vistas à cooperação e ao respeito mútuo, é fundamental creditarmos um peso considerável ao papel da educação.

Até quando chegamos à velhice, ainda podemos continuar revendo o que pensamos e sentimos; isto significa crescimento pessoal e uma vivência mais saudável.

A título de complementação: outras perspectivas teóricas sobre o desenvolvimento da personalidade vêem de forma diferente a formação da personalidade. No caso da psicanálise, credita-se grande influência das relações paternas e maternas infantis (nos primeiros anos de vida) na formação da personalidade e, consequentemente, na forma adulta de vivenciar a sexualidade. Às vezes, é necessário uma terapia para superar bloqueios; contudo, a educação sexual pode ajudar, em muitos casos, a superar traumas e visões negativas do sexo.


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