O Papa e a moral conservadora. O que fazer?
Folha de Londrina, Espaço Aberto - 26/04/2005

Diante da escolha do Papa Bento XVI que, possivelmente, continuará conservador nas questões ligadas à sexualidade, penso que os sentimentos que podem estar tomando conta de algumas pessoas sejam a insegurança e o medo, neste terreno. Uma demonstração do que significa este conservadorismo nos foi dada pela posição defendida pela irmã e filósofa do Vaticano, Elena Lugo, que esteve em Londrina no mês passado.

Transcrevo agora um trecho da reportagem da Folha de Londrina, do dia 15 de Março, que resume o pensamento de Elena: “Quanto ao uso de contraceptivos e preservativos, a irmã reflete a opinião do Vaticano: é contra. 'Uma mulher solteira só deve usar anticoncepcional se esse for o único remédio para uma enfermidade. Nunca para evitar gravidez', afirma. Já no caso de mulheres casadas, a filósofa acredita que há a possibilidade de fazer um planejamento familiar sem necessidade do remédio. 'Se tiver um diálogo entre o casal, não será difícil se abster por um período para evitar outro filho', explica”.

Com toda esta postura, ela denota não estar sintonizada com a época em que vivemos; está “remando contra a maré”! Como esperar que nossa juventude deseje aderir ao catolicismo, se este propõe um jeito de viver que não mais condiz com a realidade? A filósofa também afirmou que é contra o aborto em qualquer situação e que, em caso de estupro, “aconselha não interromper a gravidez e entregar o filho a uma instituição”. Para mim, é uma atitude extremamente fria e desumana diante de uma criança que vem ao mundo! O que impera é a regra de nunca aprovar o aborto e de nunca rever esta regra, não importa que vida levarão, a criança nascida, ou a mãe que deu à luz.

Numa das publicações do Instituto Superior de Estudos da Religião (ISER), em 1992, Carmen Cinira Macedo afirmou que, diante do descompasso entre o que a Igreja prega como norma sexual e a realidade atual, muitos católicos acabam por cultuar uma “religiosidade popular”, na qual o indivíduo assegura seu sentimento de pertença ao catolicismo, enquanto que, num contato direto com Deus, gerencia sua vida sexual sem conflitos e culpas. Segundo esta estudiosa, o povo acredita que toda a Igreja Católica guia-se pelas posturas antigas e reacionárias em relação ao sexo. Afirma que há, no entanto, uma parcela do clero que tem assumido, nos últimos anos, inclusive no Brasil, uma postura aberta e atualizada, na qual o cristão é orientado, não a seguir ao pé da letra as regras morais determinadas pelo Vaticano, mas sim, a guiar-se pelos valores morais cristãos, tais como: o amor, o respeito pelo outro e por si próprio, a justiça, a igualdade e a fraternidade. Assim, diante de cada questão relacionada à sexualidade, o cristão pode, pautado nestes valores, decidir por si próprio, com liberdade e responsabilidade, o que é certo ou errado. Se a Igreja continuar radical nas questões da sexualidade, sabemos que temos este caminho que nos ajudará a sermos livres da repressão, sem esmorecer na fé. 

É animador saber que Bento XVI tem como lema fortalecer, nas pessoas, a fé e a amizade com Jesus; torçamos para que isto se dê paralelo à revisão de toda moral sexual, a fim de que a adesão ao catolicismo seja mais forte, íntegra e verdadeira.


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