Padre gay e as novas regras do Papa
Folha de Londrina, Espaço Aberto - 11/10/2005

O Vaticano quer impedir gays de se tornarem padres para combater casos de abuso sexual. É muito triste ver a Igreja adotar medidas instaladoras de preconceitos e intolerância. É completamente falsa a idéia de que os homossexuais têm tendência a abusar de crianças e adolescentes. Entre os adultos que agem como abusadores estão os pedófilos que, independente de serem homo ou heterossexuais, são sujeitos bastante imaturos, sentem atração sexual por crianças, de maneira exclusiva ou preferencial, e não conseguem exercer controle sobre seu desejo. Em segundo lugar, estão os adultos que mantém atividades sexuais com outros adultos (ou manteriam, caso não lhes fosse impedido), mas que abusam de crianças devido à baixa auto-estima, conflitos matrimoniais, uso de álcool ou de droga ou insatisfação sexual. Esta última, geralmente, acompanha os que são obrigados a abrir mão da realização sexual e isto sim, poderia favorecer a ocorrência do abuso. Há outros fatores que levam uma pessoa a ser um abusador, porém, abordá-los fugiria dos propósitos deste pequeno texto.

Segundo o teólogo Wunibald Muller, autor do livro “Pessoas homossexuais” (Edit. Vozes), há dois tipos de homossexualidade,: a primária, na qual ser homossexual faz parte da personalidade da pessoa e a secundária, quando a pessoa passa a ter atração por indivíduos do mesmo sexo devido à convivência exclusiva com eles, como acontece em conventos, prisões e seminários. A Igreja coloca, pois, seus futuros padres para viverem afastados do sexo oposto, fomentando com isto o desenvolvimento da homossexualidade secundária e depois quer excluí-los.

É sumamente importante o/a jovem compreender se é hetero ou homossexual e se aceitar como é, se amar, para que possa ter o seu desenvolvimento psicológico, emocional e afetivo normal. Ou seja, uma pessoa não amadurece se não compreender esta parte de sua personalidade. Assim, um homossexual pode ser bom padre, desde que admita para si mesmo que sente atração afetivo-sexual por pessoas do mesmo sexo; apesar disto, pode optar por viver a abstinência sexual, como deveriam fazer todos os padres, segundo normas do Vaticano. Acredito que vários padres homossexuais possam ser também abusadores, não por serem homossexuais, mas devido ao desequilíbrio psicológico gerado pela falta de auto-aceitação e pela homofobia da sociedade. Acredito, ainda, que muitos homossexuais se tornam padres ou se casam, para refugiar-se, o que implica em muita infelicidade e frustração.

Gays podem ser ótimos médicos, professores, padres etc. A dignidade de um ser humano e a sua competência para desempenhar uma dada função não se medem por sua orientação sexual. Ser homossexual é uma questão de sentimento, não de escolha. Homossexuais podem ser boas pessoas e de bom caráter, ou podem ser pessoas de má índole; o mesmo se dá com os heterossexuais.


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