Preconceito, eu?
Folha de Londrina, Espaço Aberto - 10/04/2005

Quem caminhou pelo campus da UEL, no mês de março, pôde deparar-se com três faixas diferentes das usuais: “Preconceito, eu?”; “Reveja seus conceitos”; “Se liga. A UEL mudou”. No primeiro dia de aula, perguntei aos meus alunos do quarto ano de Psicologia se notaram as faixas. A grande maioria se deu conta da novidade, porém, ao serem questionados sobre o que fizeram com a pergunta, ficou claro que não exercitaram a auto-reflexão, como acho que aconteceu com a maioria dos que freqüentam o campus. Possivelmente, o grupo que colocou as faixas tenha tido um propósito específico: suscitar a reflexão para a questão das cotas. O fato é que as faixas foram muito oportunas para meu primeiro dia de aula, pois eu estava dando início a uma disciplina que trata de moralidade, ética e preconceito.

O que é um preconceito? De maneira simples, podemos dizer que é um conjunto de idéias préconcebidas, negativas, sobre uma questão, uma pessoa ou um determinado grupo de pessoas. São idéias que nos tornam arredios em relação àquilo que julgamos e, sendo pré-concebidas, significa que julgamos sem conhecer devidamente. Podemos dizer, também, que preconceito refere-se a atitudes que dificultam nosso exercício cotidiano de tolerância e respeito à diversidade humana. Até que ponto a vida de cada um de nós está impregnada de preconceitos? Que implicações isto tem para o bem estar de cada um e para a vida em comunidade?

Comumente, as pessoas dizem: “Eu não tenho preconceitos! Eu respeito todos os que são diferentes de mim ou que pensam diferente de mim”. Na verdade, se pararmos para pensar, veremos que a intolerância marca as nossas interações com os diferentes, mesmo dizendo que os “respeitamos”. Ao invés de negar, admitir para si próprio seus preconceitos já é primeiro passo para superá-los.

E quando o preconceito está dentro de casa? Alguns tipos de diversidade têm, no lar, a maior fonte de intolerância, quando pais ou irmãos tratam com preconceito aos que fogem aos padrões de “normalidade”.

Sempre achamos que o que pensamos é o certo, mas, como diz a psicóloga Naumi de Vasconcelos, “pode acontecer que aquilo que pensamos ser “nossa” verdade não seja senão o eco de uma voz que não é nossa, que vem de fora e que apenas reproduzimos. Saber reconhecer de onde vem essa voz é um primeiro passo para a conquista de nossa verdade.” Em todas as questões ligadas à vida humana, não podemos nos posicionar com a “cabeça no século XX”. Se pegarmos como referência, por exemplo, as grandes transformações que se processaram nos últimos tempos no relacionamento homem–mulher, concluiremos que o mundo vem exigindo de nós a revisão dos nossos pontos de vista e dos nossos comportamentos na relação com o outro, em todos os âmbitos sociais. Afinal: “Se liga! O mundo mudou!”


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