Um convite às escolas
Folha de Londrina, Espaço Aberto - 25/03/2009

Venho falar aos educadores, profissionais das escolas municipais, estaduais e particulares e fazer um convite: incluir a educação sexual na formação de nossas crianças, adolescentes e jovens. Mas o que devemos entender por educação sexual? Consiste em criar momentos de reflexão sobre a sexualidade, com dinâmicas de grupo, debates e aquisição de conhecimentos científicos. Não se trata apenas do ensino da biologia e fisiologia da sexualidade. A educação sexual envolve, sobretudo, a formação em valores, com vistas à autonomia moral e intelectual dos educandos. Quando trabalhamos o tema da sexualidade, trabalhamos o relacionamento humano, e com ele, os sentimentos, o afeto, o diálogo e o respeito por si e pelo outro. A educação sexual é um dos mais promissores caminhos para enfrentarmos problemas que afetam a todos: a violência, o abuso sexual, o bulling, a homofobia, a fragilidade nos relacionamentos afetivo-sexuais entre pares e a discriminação por todo tipo de diversidade, seja ela racial, religiosa, sexual etc.

Contudo, a proposta não é simples e traz consigo alguns desafios. O maior deles é a formação do educador para o ensino da sexualidade. Eles estão prontos? Geralmente, a maioria não está e apresenta receio e dúvidas quanto à forma de se trabalhar o tema, o que é natural e compreensivo, uma vez que as universidades têm sido omissa neste aspecto, ao formar professores das várias áreas. É bom que cada escola empenhe-se em criar condições para que seus profissionais tenham acesso a este aprendizado. Uma alternativa válida é a realização de grupos de estudo com a participação de profissionais especializados no tema, para assessorar os professores. Estudar sobre sexualidade, certamente, os conduz a um crescimento profissional e pessoal.

Precisamos recuperar o tempo perdido, pois nossas escolas estão muito aquém, neste tipo de trabalho. A primeira tentativa de inserir a educação sexual no currículo escolar data de 1930, no Colégio Batista do Rio de Janeiro. O maior número de experiências de implantação desses programas, em escolas brasileiras, deu-se na década de 60, porém, o período de repressão militar desacelerou-as. Vários acontecimentos repressores deixaram grandes cicatrizes, cujos efeitos parecem perdurar até os dias de hoje. Na década de 80 e 90, algumas escolas, especialmente nos grandes centros, começaram a introduzir ou reintroduzir o tema. Contudo, estamos distantes de um panorama promissor. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) elaborados pelo MEC, em 1996, propõem que o tema seja ensinado como “tema transversal”. É uma proposta interessante, pois convida a todos os professores, independente da disciplina que lecionam, a envolver-se com a temática, tanto de forma intencional e planejada, quanto de maneira informal, ou seja, aproveitando pequenas situações que acontecem no dia a dia da escola, ou aproveitando perguntas feitas pelos alunos, para ensinar a partir daí. Os PCN são, sem dúvida, um grande “divisor de águas”, quando se trata do ensino da sexualidade, também porque dão o apoio legal aos educadores, embora, no Paraná, as Diretrizes Curriculares de 2008 não coadunem com os mesmos moldes dos PCN.

Várias pesquisas e experiências em escolas públicas, inclusive de Londrina, têm comprovado que os professores que decidem trabalhar o tema conquistam a amizade e a confiança dos alunos. Estes, por sua vez, tornam-se mais integrados entre si, mais motivados para o estudo, e acabam por aumentar seu rendimento escolar e seu gosto pela escola. Onde isto tudo pode levar não é preciso dizer.

Tendo em vista que às universidades cabe o papel de contribuir com a formação continuada dos educadores, a UEL, por meio do Departamento de Psicologia Social e Institucional, vem desenvolvendo Grupos de Estudos sobre Educação Sexual (GEES), que este ano entra em sua décima primeira edição.

Aos que aceitarem o convite, fica depositada a esperança numa educação mais humanizadora e na realização pessoal e profissional pela ação de educar.


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